Nesta área, poderá conhecer alguns dos grandes vultos (personalidades), suas histórias e motivações.
Boa leitura!
Yvonne A. Pereira era humilde, terna, vivaz e extremamente sincera. Nasceu na Vila Santa Teresa, em Valença, Rio de Janeiro, no dia 24 de dezembro de 1900. Seus pais, ambos espíritas, foram Manuel José Pereira Filho e Elisabeth do Amaral Pereira. Ao completar um ano de idade, a menina entrou em estado cataléptico (morte aparente) e quase foi enterrada viva. Sua infância foi povoada de grandes fenômenos espíritas. Muitos deles narrados em seus livros, em especial Recordações da mediunidade.
A visão do espírito de seu pai em uma vida pregressa a marcou muito, a ponto de Yvonne não reconhecer como verdadeiro o pai da última encarnação. Aquele espírito a acompanhou durante toda sua infância, que foi um período bastante problemático em virtude de suas visões. Outro espírito também muito presente foi o de Roberto Canelejas, com quem ela conversava freqüentemente.
Yvonne chorava muito e tinha verdadeiras crises nervosas provocadas pela saudade que sentia desses espíritos. As freqüentes recordações de suas vidas passadas era um problema para a família. Durante sua infância, assistia a sessões mediúnicas feitas em sua casa. Nessas ocasiões, habituou-se às comunicações com o Dr. Bezerra de Menezes.
Yvonne era dotada de vários tipos de mediunidade: psicografia, psicofonia, efeitos físicos e de cura (que exerceu por 54 anos e meio, dando receitas homeopáticas e aplicando passes). Durante todo esse tempo, dedicou-se com total abnegação à cura de obsessões.
Psicografa de alta sensibilidade, Yvonne deixou, entre outras obras, Ressurreição e vida (Tolstoi); Nas terras do infinito (Bezerra de Menezes e Camilo Castelo Branco); Amor e ódio (Charles); Dramas da obsessão (Bezerra de Menezes); Sublimação (Tolstoi e Charles); e o notabilíssimo Memórias de um suicida – seu primeiro livro psicografado -, que, recebido de Camilo Castelo Branco em 1926, só foi publicado em 1956.
Sua tarefa junto àqueles que atentaram contra a própria vida resultou do fato de Yvonne vir de uma existência na qual havia cometido suicídio. Para ela, o trabalho desempenhado através de sua mediunidade não era missão, mas uma forma de reparar o ato desesperado do passado.
Yvonne era arredia à publicidade. Dificilmente alguém a colocaria diante de uma câmera de televisão. Em 1972, porém, foi feito um pequeno filme de trinta minutos em uma praça vizinha de sua casa e ela também deu uma entrevista de meia hora para o rádio. Nessa ocasião, inspirada pela Espiritualidade, a querida médium afirmou que quem desejar conhecer a legítima Doutrina Espírita deverá ler Kardec, Denis, Delanne e Bozzano.
Seu desencarne deu-se na noite de 9 de março de 1984, em conseqüência de uma trombose durante uma cirurgia no Hospital da Lagoa, no Rio de Janeiro. Tinha então 83 anos e era solteira.
RIZZINI, Jorge. Kardec, irmãs Fox e outros. 2. ed. Ampliada.
No dia 23 de novembro de 1795, nasceu em Thiais – comuna do Departamento do Val-de-Marne – a doze quilômetros ao sul de Paris, Amélie Gabrielle Boudet. Filha única de Julien Louis Boudet e de Julie Louise Segneat de Lacomb, Amélie aliou desde cedo grande vivacidade a forte interesse pelos estudos. De apurados dotes intelectuais, teve elevada educação moral.
Diplomou-se professora numa Escola Normalem Paris. Segundo CanutoAbreu,em O Livrodos Espíritos e sua tradição histórica e lendária, lecionou também Letras e Belas-Artes. De grande fecundidade intelectual, Amélie escreveu três obras: Contos primaveris (1825), Noções de desenho (1826) e O essencial em belas-artes (1828).
Amélie Gabrielle Boudet e o circunspeto, polido e reto Hypollite Léon Denizard Rivail – mais tarde conhecido como Allan Kardec – participavam do mesmo meio cultural, o que favoreceu o encontro de suas almas afins. Apesar da diferença de nove anos entre eles, a vivacidade inerente a Amélie se tornou cúmplice desse envolvimento. Casaram-se no dia 6 de fevereiro de 1832. Reafirmavam um amor de vidas passadas, cujo compromisso mútuo de auxílio os religou de maneira tão apropriada.
Seguindo sua formação pestalozziana, Hypollite fundou um Instituto Técnico com base nos métodos de seu professor. Amélie o acompanhou. Era uma fase difícil para a educação francesa, que não tinha o apoio governamental para o ensino primário – o que só se modificou em 1833. Dois anos após, o Instituto cerrou suas portas por dificuldades financeiras. Amélie, como toda grande mulher, deu amplo apoio ao marido. Enquanto ele fazia a contabilidade de estabelecimentos comerciais, ela o auxiliava na preparação dos cursos gratuitos que eles passaram a oferecer em 1835, na própria casa.
Diante de tanta luta e empenho, o casal Rivail restabeleceu sua situação financeira. Hypollite tornou-se bastante respeitado no meio acadêmico, graças às obras pedagógicas adotadas pela Universidade de França e aos cursos públicos de matemática e astronomia, para alunos e professores.
Nasceu em 25 de setembro de 1914, em Avaré, e desencarnou em 9 de março de 1979, em São Paulo. Filho do farmacêutico José Pires Correa e da pianista Bonina Amaral Simonetti Pires, fez seus primeiros estudos em Avaré, Itaí e Cerqueira César. Revelou sua vocação literária desde que começou a escrever. Aos 9 anos, fez seu primeiro soneto, um decassílabo sobre o Largo São João, da cidade natal. Aos 16 anos, publicou seu primeiro livro, Sonhos azuis (contos), e, aos 18, o segundo livro, Coração (poemas livres e sonetos). Já possuía, então, seis cadernos de poemas na gaveta, colaborava com jornais e revistas da época, da Província de São Paulo e do Rio. Teve vários contos publicados com ilustrações na Revista da Semana e no Malho. Foi um dos fundadores da União Artística do Interior (UAI), que promoveu dois concursos literários, um de poemas pela sede da UAI em Cerqueira César, e outro de contos pela Seção de Sorocaba.
Mário Graciotti o incluiu entre os colaboradores permanentes da seção literária de A Razão,em S. Paulo, que publicava um poema de sua autoria todos os domingos. Em 1928, transformou o jornal político de seu pai em semanário literário e órgão do UAI. Mudou-se para Marília em 1940 (com 26 anos), onde adquiriu o jornal Diário Paulista e o dirigiu durante seis anos. Com José Geraldo Vieira, Zoroastro Gouveia, Osório Alves de Castro, Nichemja Sigal, Anthol Rosenfeld e outros, promoveram através do jornal, um movimento literário na cidade e publicou Estradas e ruas (poemas), que Érico Veríssimo e Sérgio Millet comentaram favoravelmente. Em 1946, mudou-se para São Paulo e lançou seu primeiro romance, O caminho do meio, que mereceu críticas, elogios as de Afonso Schmidt, Geraldo Vieira e Wilson Martins. Foi repórter, redator, secretário, cronista parlamentar e crítico literário dos Diários Associados. Exerceu essas funções na Rua 7 de Abril, por cerca de trinta anos.
Escreveu mais de 80 livros de Filosofia, Ensaios, História, Psicologia, Pedagogia, Parapsicologia, Romance e Espiritismo, vários em parceria com Chico Xavier, sendo a maioria inteiramente dedicada ao estudo e divulgação da Doutrina Espírita. Lançou a série de ensaios Pensamento da Era Cósmica e a série de romances e novelas de Ficção Científica Paranormal. Alegava sofrer de “grafomania”, porque escrevia dia e noite. Não tinha vocação acadêmica e não seguia escolas literárias. Seu único objetivo era comunicar o que achava necessário, da melhor maneira possível. Graduado em Filosofia pela USP em 1958, publicou uma tese existencial: O ser e a serenidade. De1959 a 1962, ocupou a cadeira de Filosofia da Educação na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara.
José Herculano lecionou Psicologia no Instituto Brasileiro de Filosofia, seção São Paulo, do qual foi membro titular. Presidiu o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo de1957 a 1959. Foi professor de Sociologia no curso de Jornalismo ministrado pelo Sindicato. Foi presidente e professor do Instituto Paulista de Parapsicologia de São Paulo. Organizou e dirigiu cursos de Parapsicologia para os Centros Acadêmicos da Faculdade de Medicina da USP, da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, da Escola Paulista de Medicina e em diversas cidades e colégios do interior. Fundou o Clube dos Jornalistas Espíritas de São Paulo em 23 de janeiro de 1948. O Clube funcionou por 22 anos. Herculano foi membro da Academia Paulista de Jornalismo, na qual ocupou a cadeira “Cornélio Pires” em 1964. Pertenceu também à União Brasileira de Escritores, na qual exerceu o cargo de diretor e membro do Conselho no ano de 1964. José Herculano Pires foi chefe do subgabinete da Casa Civil da Presidência da República no governo Jânio Quadros no ano de 1961, no qual permaneceu até a renúncia do mesmo.
Espírita desde a idade de 22 anos, José Herculano – um dos autores mais críticos dentro da Doutrina Espírita – não poupou esforços na divulgação oral e impressa da Doutrina codificada por Allan Kardec, tarefa à qual dedicou a maior parte de sua vida. Com sua linha de pensamento forte e altamente racional, combateu desvios e mistificações. Durante vinte anos manteve uma coluna diária de Espiritismo nos Diários Associados, sob o pseudônimo Irmão Saulo. Durante quatro anos, manteve no mesmo jornal uma coluna em parceria com Chico Xavier sob o título “Chico Xavier pede licença”. Foi diretor fundador da revista Educação Espírita, publicada pela Edicel. Em 1954, publicou Barrabás, que recebeu um prêmio do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo, constituindo o primeiro volume da trilogia Caminhos do Espírito. Publicou Lázaro em 1975 e, com o romance Madalena, concluiu a trilogia. Traduziu cuidadosamente as obras da Codificação kardecista, enriquecendo-as com notas explicativas de rodapé. Essas traduções foram doadas a diversas editoras espíritas no Brasil, Portugal, Argentina e Espanha. Colaborou com o doutor Júlio Abreu Filho na tradução da Revista Espírita. Ao desencarnar, deixou vários originais inéditos, os quais vêm sendo publicados pela Editora Paidéia.
Nascida na cidade de Resende, Estado do Rio de Janeiro, no dia 1 de fevereiro de 1856, e desencarnada em S. Paulo, no dia 13 de janeiro de 1919.
Seu nome de solteira era Anália Emília Franco. Após consorciar- se em matrimônio com Francisco Antônio Bastos, seu nome passou a ser Anália Franco Bastos, entretanto, é mais conhecida por Anália Franco.
Com 16 anos de idade entrou num Concurso de Câmara dessa cidade e logrou aprovação para exercer o cargo de professora primária. Trabalhou como assistente de sua própria mãe durante algum tempo. Anteriormente a 1875 diplomou- se Normalista, em S. Paulo.
Foi após a Lei do Ventre Livre que sua verdadeira vocação se exteriorizou: a vocação literária. Já era por esse tempo notável como literata, jornalista e poetisa, entretanto, chegou ao seu conhecimento que os nascituros de escravas estavam previamente destinados à “Roda” da Santa Casa de Misericórdia. Já perambulavam, mendicantes, pelas estradas e pelas ruas, os negrinhos expulsos das fazendas por impróprios para o trabalho. Não eram como até então “negociáveis”, com seus pais e os adquirentes de cativos davam preferência às escravas que não tinham filhos no ventre. Anália escreveu, apelando para as mulheres fazendeiras. Trocou seu cargo na Capital de São Paulo por outro no Interior, a fim de socorrer as criancinhas necessitadas. Num bairro duma cidade do norte do Estado de S. Paulo conseguiu uma casa para instalar uma escola primária.
Uma fazendeira rica lhe cedeu à casa escolar com uma condição, que foi frontalmente repelida por Anália: não deveria haver promiscuidade de crianças brancas e negras. Diante dessa condição humilhante foi recusada a gratuidade do uso da casa, passando a pagar um aluguel. A fazendeira guardou ressentimento à altivez da professora, porém, naquele local Anália inaugurou a sua primeira e original “Casa Maternal”. Começou a receber todas as crianças que lhe batiam à porta, levadas por parentes ou apanhadas nas moitas e desvios dos caminhos. A fazendeira, abusando do prestígio político do marido, vendo que a sua casa, embora alugada, se transformara num albergue de negrinhos, resolveu acabar com aquele “escândalo” em sua fazenda. Promoveu diligências junto ao coronel e este conseguiu facilmente a remoção da professora. Anália foi para a cidade e alugou uma casa velha, pagando de seu bolso o aluguel correspondente à metade do seu ordenado.
Como o restante era insuficiente para a alimentação das crianças, não trepidou em ir, pessoalmente, pedir esmolas para a meninada. Partiu de manhã, a pé levando consigo o grupinho escuro que ela chamava, em seus escritos, de “meus alunos sem mães”. Numa folha local anunciou que, ao lado da escola pública, havia um pequeno “abrigo” para as crianças desamparadas. A fama, nem sempre favorável da novel professora, encheu a cidade. A curiosidade popular tomou- se de espanto, num domingo de festa religiosa. Ela apareceu nas ruas com seus “alunos sem mães”, em bando precatório. Moça e magra, modesta e altiva, aquela impressionante figura de mulher, que mendigava para filhos de escravas, tornou- se o escândalo do dia. Era uma mulher perigosa, na opinião de muitos. Seu afastamento da cidade principiou a ser objeto de consideração em rodas políticas, nas farmácias. Mas rugiu a seu favor um grupo de abolicionistas e republicanos, contra o grande grupo de católicos, escravocratas e monarquistas.
Com o decorrer do tempo, deixando algumas escolas maternais no Interior, veio para S. Paulo. Aqui entrou brilhantemente para o grupo abolicionista e republicano. Sua missão, porém, não era política. Sua preocupação maior era com as crianças desamparadas, o que a levou a fundar uma revista própria, intitulada “Álbum das Meninas”, cujo primeiro número veio a lume a 30 de abril de 1898. O artigo de fundo tinha o título “Às mães e educadoras”. Seu prestígio no seio do professorado já era grande quando surgiram a abolição da escravatura e a República. O advento dessa nova era encontrou Anália com dois grandes colégios gratuitos para meninas e meninos. E logo que as leis o permitiram, ela, secundada por vinte senhoras amigas, fundou o instituto educacional que se denominou “Associação Feminina Beneficente e Instrutiva”, no dia 17 de novembro de 1901, com sede no Largo do Arouche, em S. Paulo.
Em seguida criou várias “Escolas Maternais” e “Escolas Elementares”, instalando, com inauguração solene a 25 de janeiro de 1902, o “Liceu Feminino”, que tinha por finalidade instruir e preparar professoras para a direção daquelas escolas, com o curso de dois anos para as professoras de “Escolas Maternais” e de três anos para as “Escolas Elementares”.
Anália Franco publicou numerosos folhetos e opúsculos referentes aos cursos ministrados em suas escolas, tratados especiais sobre a infância, nos quais as professoras encontraram meios de desenvolver as faculdades afetivas e morais das crianças, instruindo- as ao mesmo tempo. O seu opúsculo “O Novo Manual Educativo”, era dividido em três partes: Infância, Adolescência e Juventude.
Em 1 de dezembro de 1903, passou a publicar “A Voz Maternal”, revista mensal com a apreciável tiragem de 6.000 exemplares, impressos em oficinas próprias.
A Associação Feminina mantinha um Bazar na rua do Rosário nº. 18, em S. Paulo, para a venda dos artefatos das suas oficinas, e uma sucursal desse estabelecimento na Ladeira do Piques nº. 23.
Anália Franco mantinha Escolas Reunidas na Capital e Escolas Isoladas no Interior, Escolas Maternais, Creches na Capital e no Interior do Estado, Bibliotecas anexas às escolas, Escolas Profissionais, Arte Tipográfica, Curso de Escrituração Mercantil, Prática de Enfermagem e Arte Dentária, Línguas (francês, italiano, inglês e alemão); Música, Desenho, Pintura, Pedagogia, Costura, Bordados, Flores artificiais e Chapéus, num total de 37 instituições.
Era romancista, escritora, teatróloga e poetisa. Escreveu uma infinidade de livretos para a educação das crianças e para as Escolas, os quais são dignos de serem adotados nas Escolas públicas.
Era espírita fervorosa, revelando sempre inusitado interesse pelas coisas atinentes à Doutrina Espírita.
Produziu a sua vasta cultura três ótimos romances: “A Égide Materna”, “A Filha do Artista”, e “A Filha Adotiva”. Foi autora de numerosas peças teatrais, de diálogos e de várias estrofes, destacando- se “Hino a Deus”, “Hino a Ana Nery”, “Minha Terra”, “Hino a Jesus” e outros.
Em 1911 conseguiu, sem qualquer recurso financeiro, adquirir a “Chácara Paraíso”. Eram 75 alqueires de terra, parte em matas e capoeiras e o restante ocupado com benfeitorias diversas, entre as quais um velho solar, ocupado durante longos anos por uma das mais notáveis figuras da História do Brasil: Diogo Antônio Feijó.
Nessa chácara fundou Anália Franco a “Colônia Regeneradora D. Romualdo”, aproveitando o casarão, a estrebaria e a antiga senzala, internando ali sob direção feminina, os garotos mais aptos para a Lavoura, a horticultura e outras atividades agropastoris, recolhendo ainda moças desviadas, conseguindo assim regenerar centenas de mulheres.
A vasta sementeira de Anália Franco consistiu em 71 Escolas, 2 albergues, 1 colônia regeneradora para mulheres, 23 asilos para crianças órfãs, 1 Banda Musical Feminina, 1 orquestra, 1 Grupo Dramático, além de oficinas para manufatura de chapéus, flores artificiais, etc., em 24 cidades do Interior e da Capital.
Sua desencarnação ocorreu precisamente quando havia tomado a deliberação de ir ao Rio de Janeiro fundar mais uma instituição, idéia essa concretizada posteriormente pelo seu esposo, que ali fundou o “Asilo Anália Franco”.
A obra de Anália Franco foi, incontestavelmente, uma das mais salientes e meritórias da História do Espiritismo.